Visualidades e Cotidiano no ensino da arte

Organizadores

Nádia da Cruz Senna

Ursula Rosa da Silva

Vol. 11

Dados Técnicos
Capítulos

Apresentação

É com imensa satisfação que apresentamos mais uma publicação resultante de um trabalho interinstitucional, promovido pela parceria bem sucedida entre o Programa de Pós-Graduação Mestrado em Artes Visuais do Centro de Artes da Universidade Federal de Pelotas (UFPel/RS), e o Programa de Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual da Universidade Federal de Goiás (UFG). A conexão estabelecida entre professores e alunos destes dois programas vem fomentando discussões, compartilhamentos, sintonias e encontros felizes responsáveis pela qualificação da produção científica em artes.

Nessa coletânea, damos sequência ao projeto colaborativo de dar visibilidade e divulgar nosso trabalho, reunindo pesquisadores de nossas Instituições e de outras do país, com as quais mantemos vínculos em comum. Assim, comparecem pesquisadores do Mestrado em Artes Visuais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM/RS) e do Mestrado Profissional em Educação e Tecnologia do Instituto Federal Sul Rio Grandense (IFSUL – Campus Pelotas/RS).

Cientes da necessidade de fortalecer e ampliar a rede de relações promovendo interações que suplantem fronteiras, partilhamos os saberes e as indagações que motivaram o grupo de pesquisadores em torno das Visualidades e cotidiano no ensino da arte. O tema tem instigado experiências e reflexões acerca da produção contemporânea em artes visuais, segundo diferentes perspectivas e conexões. Trazemos nesse livro relatos, ponderações, sínteses de pesquisas e inquietações que compreendem desde a influência das mídias sobre hábitos e costumes e suas reverberações no ambiente escolar, articulações entre arte e cultura visual pautadas na valoração dos gestos e dos espaços, proposições que ativam imaginários e/ou resgatam memórias e afetos para instaurar processos diferenciados de ensino e aprendizado.

A provocação desencadeada por Julien de Casablanca na série Outings, é o ponto de partida para Raimundo Martins e Irene Tourinho refletirem sobre desterritorialização e visualidades. Em Ensino de Arte, Contemporaneidade e Vida Cotidiana os autores investigam percepções e apropriações decorrentes do deslocamento proposto pelo artista, ao transpor imagens de museus para os muros das cidades; discutem ainda, desdobramentos da experiência em âmbito escolar.

Igualmente interessado na potência das imagens para inaugurar discursos e processos diferenciados, Donald Kerr Jr aborda um problema recorrente sobre o lugar tradicional que a imagem ocupa na escola, tratada como ilustração e não como pensamento. Em Imagens e cotidiano escolar - entre Foucault, Deleuze e outros afins o pesquisador se vale de sua experiência e da colaboração de vários pensadores para defender a necessidade de inventar novas possibilidades de interagir/apropriar/pensar com imagens, como ação essencial para romper com os modos hegemônicos da linguagem. 

Com intenção de romper com modos e hierarquias ultrapassadas, seja de linguagens ou comportamentos, Kelly Arantes e Raimundo Martins, perguntam: “como a escola se relaciona com o mundo da vida?Nas Redes Sociais... Caiu é Peixe! comparecem as discussões realizadas em torno da temática dos “rolezinhos” apontando para a urgência da escola em se conectar com o mundo da vida, o mundo de seus estudantes, adotando uma perspectiva pedagógica, que humanize e capacite esses jovens a adentrarem novos territórios para além daqueles formalmente permitidos.

As inquietações de Angela Raffin Pohlmann e Sandra Regina Simonis Richter sobre o modo como as linguagens plásticas reverberam no corpo e nos processos de aprendizagem se fazem presentes em O Poder Ficcional das Linguagens Plásticas: Afinidades entre os Processos de Criação na Arte e na Pedagogia.  As autoras aproximam suas pesquisas em artes plásticas e educação para tecer uma rede de relações que se estabelecem entre corpos, gestos e marcas decorrentes do movimento transformativo dos corpos em contato com as matérias.

Andarilhar, movimentar-se considerando a poesia envolvida no processo, tem instigado a produção das pesquisadoras Eduarda Gonçalves e Alice Monsell. Marambaiar: deslocamentos físicos/observações poéticas – DESLOCC, parte dos questionamentos que motivaram suas práticas e reflexões: “como constituir um espaço físico e mental que, proporcione experiências poéticas aos estudantes de artes e aos artistas visuais?” ou “como a cidade e arredores, podem se transformar numa espécie de galeria e atelier a céu aberto?” Estas perguntas as levaram a conceber ações artísticas, como caminhar pelas ruas da cidade, como uma prática estética, conforme considera Francesco Careri no livro Walkscapes. Ou ainda, conceber o caminhar, o passear como uma tática para (re)invenção do cotidiano.

A transformação do cotidiano operacionalizada pela invenção/intervenção de aparatos tecnológicos, desde a invenção da câmera fotográfica e do cinematógrafo, no que tange ao estabelecimento das redes de comunicação, quanto para o armazenamento e disponibilização de dados, e o quanto ainda as instituições escolares pouco têm se apropriado desses recursos em seus projetos pedagógicos incitou a investigação conduzida por Alice Martins. Em Mídias contemporâneas: narrativas e aprendizagens fora e dentro da escola, a autora levanta questionamentos presentes em narrativas audiovisuais passíveis de serem explorados em sala de aula, sugere filmografias, diretores e experimentações baseadas nas potencialidades oferecidas pelos aparatos tecnológicos portáteis em processos de ensino e aprendizagem.

Explorando aspectos críticos e poéticos das narrativas pessoais, Belidson Dias e Leísa Sasso apresentam resultados alcançados no projeto educativo “O Projeto Tarot” que culminou em uma dissertação de mestrado. O Projeto Tarot: História da Arte, Coditiano & Pedagogias Culturais uma síntese da pesquisa desenvolvida, discute o livro-objeto construído, que evidencia em sua visualidade memórias da comunidade, reconhecimento, afeto e criticidade diante da realidade vivida no contexto da periferia.

O resgate das memórias e vivências estéticas são elencadas por Cláudio Azevedo para desvelar implicações na formação de um arte-educador. Em Da Universidade à Escola: Memórias e Experiências Estéticas de um Arte-Educador o autor propõe uma cronologia invertida, segundo uma linha de tempo que explora acontecimentos mais recentes, como sua atuação no ensino superior, indo em direção aos acontecimentos mais remotos, dos tempos de criança, para demonstrar o quanto os encontros com a arte reverberaram e foram determinantes para a trajetória percorrida.

Coditiano e Visualidade: Costuras num modo de Ensinar Arte, de autoria de uma das organizadoras deste livro, Ursula Rosa da Silva, trata da memória do trabalho, das vivências e das realizações de professores, alunos e funcionários Centro de Artes da UFPel (RS), espaço formador de profissionais que atuam, na sua maioria, no Sul do Brasil desde os anos 1970. Além do aspecto de historiografar os momentos vividos nesta instituição, este estudo retoma a produção dos professores no sentido de dar ênfase as suas concepções pedagógicas, sua visão do que significa o ensino de arte, quais as metodologias e procedimentos para efetivá-lo na formação tanto de artistas quanto de professores de artes, e se este ensino nos aponta especificidades nas visualidades produzidas.

Visualidades pós-modernas são investigadas por Mariana de Almeida e Lúcia Weymar  em Pós-Modernidade e Internet: os Gifs como Ferramentas de Afeto e Ativismo Virtual. A partir da constatação que o viver pós-moderno, repleto de possibilidades de relacionamentos, ações e conhecimentos, muda a maneira de nos comunicarmos e confere outro status ao estar-junto. As autoras analisam como o movimento contínuo próprio do Graphics Interchange Format (GIF), aqui considerados como elementos estéticos, podem representar as maneiras com as quais nos relacionamos com os paradoxos contemporâneos e, enquanto ferramentas de educação estética, podem colaborar na construção de lugares de convivência mais sensíveis e afetuosos.

Repensar/reclamar uma noção de tempo para a arte e criatividade no conjunto das atividades de aprendizagem humana, de Leonardo Charréu, procura refletir sobre algumas questões importantes que afetam a escola contemporânea, em particular, a sua segmentação temporal e a divisão do conhecimento em disciplinas hierarquizadas. Apresenta exemplos do desajuste existente entre as práticas tradicionais da escolarização e as práticas da arte e da criatividade que artistas e cientistas manifestam na vida cotidiana. O autor trata da questão do cronotempo e como a escola lida com ele. Por fim, reclama uma arte e uma criatividade que interajam e se reflitam, de modo relevante no tecido social alargado, como práticas transversais a todas as áreas de atividade humana.

Na tentativa de superar bloqueios e atender aos desejos das crianças em construir suas próprias narrativas, explorando a linguagem dos quadrinhos foi desenvolvida uma metodologia para o ensino e produção de histórias em quadrinhos. A proposta denominada “Boneco de Pauzinho”, se detém sobre esse personagem que "nasce" dentro da HQ. Em Experiências com quadrinhos em sala de aula: aspectos sensíveis e contexto sociocultural, Fabrício Lima; Nádia Senna e Larissa Chaves apontam aspectos envolvidos na construção e aplicação da proposta: o desenvolvimento gráfico e cognitivo, questões de gênero, contexto social e o uso de pedagogias baseadas no afeto para alcançar a expansão do conhecimento sensível.

As organizadoras
Pelotas, junho 2015